Onda de Demissões na Tecnologia: Entendendo o Que Realmente Aconteceu
As demissões em massa na tecnologia pós-pandemia são o fim da linha? Analisamos a história do setor, da popularização da Internet à bolha das IAs, e desvendamos os motivos por trás das demissões.
Fábio Andrade
8/22/20255 min read


Se você acompanhou as notícias de tecnologia no último ano, certamente viu manchetes sobre "layoffs", ou demissões em massa, em gigantes como Google, Meta e Amazon. Para muitos que estão começando na área, isso pode parecer um sinal de alerta, como se o sonho da carreira em tecnologia estivesse por um fio.
Mas para entender o que está acontecendo, precisamos ir além das notícias de hoje e "refatorar" a história recente do nosso mercado. A onda de demissões não é o fim da linha, mas sim o resultado de uma série de eventos que moldaram o setor.
Ponto de Ignição: A Criação da Internet
A jornada do mercado de tecnologia, como o conhecemos hoje, começou com um evento revolucionário: a criação e popularização da internet. O que antes era uma rede de comunicação restrita a universidades e centros de pesquisa, transformou-se em uma plataforma global que conectou pessoas e informações de uma forma nunca vista. A internet não só mudou a maneira como interagimos, mas também criou um novo "terreno" fértil para empresas e serviços, dando origem a gigantes da tecnologia e a um mercado de trabalho que, até então, era inimaginável.
Imagine que você fosse dono de uma empresa antes da criação da Internet. Nessa situação, muitos fatores limitam o crescimento do seu negócio, uma vez que um negócio local, só é conhecido na região onde se estabelece e só é possível vender algo, se o comprador conhece a sua loja. A Internet possibilitou que empresas locais tivessem visibilidade fora de sua limitação geográfica.
Mas criar uma presença na Internet era fácil? A resposta é: com certeza não. As ferramentas de desenvolvimento da época eram muito complexas e necessitavam de pessoas com muito conhecimento para alcançar esse objetivo. Visando resolver esses problemas, surgiram então os programadores.
Impulso Americano: Obama e a Cultura do "Code"
Lá no início dos anos 2010, o mercado de tecnologia já era promissor, mas ainda não era a febre que conhecemos hoje. Foi o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que ajudou a dar um impulso cultural decisivo. Em 2013, a Casa Branca lançou a iniciativa que tinha como objetivo incentivar os cidadãos, em especial os norte-americanos, a aprenderem a programar.
Essa iniciativa, junto ao crescimento das redes sociais e do Vale do Silício, popularizou a programação como uma habilidade vital para o futuro. O código deixou de ser algo de nicho e se tornou parte da cultura popular. O resultado foi um crescimento acelerado e uma corrida por talentos, criando um mercado de trabalho superaquecido.
Nesse período, grandes universidades americanas começaram a presenciar aumentos exponenciais no número de estudantes buscando cursos relacionados a programação.
O grande problema é que esse crescimento induzido não é natural, do ponto de vista econômico e com o passar do tempo o número de contratações começou a se estabilizar, mas então outro fenômeno, dessa vez mundial, alavancou a computação mais uma vez a patamares estratosféricos, a pandemia da COVID-19.
A Bolha da COVID-19: Crescimento Exponencial e Contratações em Excesso
O próximo grande ponto de inflexão foi a pandemia de COVID-19. Com o mundo inteiro em casa, a vida digital explodiu. O e-commerce, o streaming, as plataformas de videochamada e os serviços de entrega viram um crescimento sem precedentes
As empresas de tecnologia, acreditando que esse ritmo de crescimento era a nova "normalidade", investiram pesado. Elas contrataram milhões de novos funcionários em um tempo recorde. A demanda por programadores e outros profissionais de tecnologia era tão alta que os salários dispararam e as ofertas de emprego pareciam infinitas.
E num cenário onde muita gente ficou desempregada e as vagas para programadores não paravam de subir, se tornar um programador era a "Oportunidade do Século" e é claro que as falsas promessas começaram a aparecer. Nesse período, muita gente mal intencionada começou a divulgar produtos (em especial cursos e bootcamps) com a promessa de que os compradores aprenderiam a programar e conseguiriam empregos com salários exorbitantes em questão de semanas, mesmo que você não tivesse nenhum conhecimento na área.
O problema é que esse crescimento foi artificialmente impulsionado por um evento único e temporário e cedo ou tarde, a pandemia iria chegar ao fim.
A Correção do Mercado e Volta à Realidade
Com a normalização da vida pós-pandemia, o ritmo acelerado da era do lockdown desacelerou. As pessoas voltaram a gastar dinheiro com viagens, eventos e atividades presenciais. As empresas de tecnologia perceberam que o crescimento que esperavam não se sustentou.
Isso levou a uma correção de mercado. As empresas, que haviam contratado em excesso, precisaram cortar custos. As demissões não foram necessariamente um sinal de que a tecnologia está em crise, mas sim um ajuste para um crescimento mais sustentável e realista. É uma bolha que está murchando, mas o setor por baixo dela continua forte.
E nesse momento de correção, qual parcela dos desenvolvedores mais sofreu com os cortes? Os que não eram produtivos, ou seja, os que não sabiam programar. Essa parcela se tornou insustentável, uma vez que os salários eram muito altos mas as expectativas de retorno com aquela contratação não eram alcançadas.
E para piorar, no final das contas, a culpa por essas demissões caiu sobre uma nova tecnologia que se popularizou pouco tempo após o fim da pandemia, as Inteligências Artificiais. As IAs, chegaram em um momento de instabilidade econômica e no final, foi mais fácil dizer que as IAs acabariam com os programadores do que entender as raízes profundas que levaram a essa "Crise no mercado de programação".
O Que Isso Significa Para Você, Que Está Começando?
Essa história, em vez de ser desanimadora, é uma lição valiosa. Ela nos mostra que:
Fundamentos São Mais Importantes do Que Nunca: As demissões afetaram principalmente profissionais de experiência júnior e que trabalhavam em áreas de baixo impacto. A lição é que a profundidade do conhecimento e a capacidade de resolver problemas complexos são diferenciais inestimáveis.
A "Festa Acabou", Mas o Mercado Continua Forte: O tempo em que qualquer um conseguia um emprego com salário alto só por saber o básico de uma linguagem pode ter ficado para trás. Agora, as empresas buscam por profissionais qualificados e que ofereçam um valor real. A demanda continua alta, mas a exigência também.
Você está Preparado para o Futuro: Ao aprender os fundamentos da programação e a filosofia de "refatorar", você está construindo uma carreira sólida, que não depende de uma bolha de mercado. Você está se preparando para ser o profissional que as empresas buscarão, mesmo em tempos de incerteza.
O mercado de tecnologia não está morrendo. Ele está amadurecendo e se tornando mais exigente. Essa é uma oportunidade para que você, como programador da nova era, construa uma carreira robusta e à prova de crises.
Um Grande Abraço,
Fábio Andrade